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  • A CONSTRUÇÃO DO DISCURSO ORAL

    Daniela Panutti



    Atualmente, está muito difundida a ideia de que a oralidade é um aspecto importante no desenvolvimento infantil: enfatiza-se a relevância de atividades e propostas que promovam a linguagem oral em escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Porém, no contato cotidiano com educadores, percebemos que este ponto, aparentemente pacífico, acaba por ser pouco trabalhado em sua especificidade, uma vez que nem sempre se tem clareza de quais os conteúdos a serem contemplados nesta área ou mesmo como trabalhá-los. Ao propor um espaço específico para o trabalho com a linguagem oral, convidamos os educadores a se debruçarem sobre as particularidades da aquisição e desenvolvimento da oralidade, com o objetivo de viabilizar o domínio dessa importante ferramenta linguística.

    A escola ensina a falar?

    Como sabemos, as crianças estão inseridas na corrente linguística desde o nascimento, ou seja, muito antes de começarem a falar autonomamente. Ao referir-se ao seu bebê, ao conversar com ele, as mães diferenciam-se das crianças, de forma a estabelecer com elas um espaço comunicativo, fundando uma instância que possibilita a constituição do sujeito. Vários autores contribuíram para a compreensão da linguagem e suas repercussões. Vigotski considera a linguagem como um exercício social, uma vez que pressupõe a relação entre os falantes, permitindo também relações interpsíquicas, que participam da construção de funções mentais superiores tais como imaginação, memória, planejamento, entre outras.

    Aos seis anos, as crianças já dominam as habilidades comunicativas básicas, tendo condições de se expressarem verbalmente para comunicar ideias, informações, eventuais desagrados e sentimentos. Aproveitando essas possibilidades, o professor tem à sua disposição preciososinstrumentos de trabalho, que podem contribuir para futuras aprendizagens. Podemos, por exemplo, partir de relatos de experiências das crianças para tematizar um novo assunto a ser abordado com o grupo, ou então aproveitar suas explicações sobre fenômenos científicos ou naturais como ponto de partida para interessantes pesquisas. Vemos, assim, que a linguagem oral é uma grande aliada no trabalho com outras áreas de conhecimento. Mas não seria interessante pensarmos também em atividades específicas desta área, tão necessária para o suporte de outros conhecimentos?

    À primeira vista, falar parece muito fácil, e todos nos julgamos bons falantes. Porém, quantas vezes deparamos com situações em que nos faltam as palavras? “Eu sei como é, mas não sei explicar”, dizem com frequência nossos alunos. “Com meus colegas me viro bem, mas assim, em público, é mais difícil falar”, comentam muitos professores... O que podemos fazer para sanar essas dificuldades, ou melhor, para instrumentalizar as crianças a desfrutarem do prazer de uma boa conversa?

    Ao trabalhar a linguagem oral devemos ter sempre em foco o caráter relacional desse exercício, evitando propostas descontextualizadas ou que não tratam da língua em toda a sua complexidade, como, por exemplo, situações de conversa burocratizadas ou artificiais, que acabam por perder o sentido por não se configurarem como espaços de comunicação e interlocução.

    Com base nessas informações, podemos afirmar que a escola não ensina a falar, mas tem participação decisiva nesta aprendizagem, uma vez que pode atuar garantindo que as crianças desenvolvam e ampliem suas capacidades comunicativas de forma a se expressarem cada vez com mais precisão, contando com esta habilidade para a compreensão do mundo.


    A parceria entre as crianças e os educadores

    A aquisição do discurso oral é um processo dialético. Esta construção não acontece de forma linear, mas, sim, por meio de trocas e da interação social, a partir do que as crianças vão colecionando informações acerca deste código comunicativo – e os falantes mais experientes desempenham papel fundamental nesse processo. A criança, desde bem pequena, aproveita situações de comunicação para aprender sobre a fala – ela seleciona sons, elocuções, ritmos, entonação e outros recursos linguísticos para testar sua compreensão sobre a língua.

    O processo de apropriação da linguagem por parte da criança é individual: cada um trilha o seu próprio caminho até alcançar o domínio sobre a língua, e esse caminho nunca acaba, pois existem sempre múltiplas possibilidades de comunicação e atribuição de significados.

    O adulto, parceiro da criança nesse caminho, tem grande responsabilidade no processo, uma vez que a fala da criança se constroi a partir desta relação: ela entra na língua pela via do outro e gradativamente vai adquirindo a possibilidade de falar por si mesma. É este outro que vai significar a fala da criança, e, consequentemente, a própria criança, uma vez que sua fala reflete o efeito de sua significação no outro. Nesse sentido, é muito importante que os educadores compreendam tais dinâmicas, para que possam atuar sempre em sintonia com os processos vivenciados por seus alunos.

    Os alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental trazem consigo experiências comunicativas anteriores, e é importante que o professor considere tais vivências no momento em que planeja suas atividades de linguagem oral. Para iniciar, vale explorar um pouco como as crianças se relacionam e utilizam a linguagem. De que conhecimentos dispõem? Que procedimentos dominam? Conseguem se ouvir? Como se expressam? Informações como essas podem ser úteis para a organização de seu trabalho na área, pois norteiam os objetivos para cada etapa do processo que se inicia.

    Atualmente, sabemos que a aprendizagem envolve uma combinação entre atividades novas e desafiadoras e outras já familiares às crianças, integradas na direção da construção de novos conhecimentos. A oralidade, a leitura e a escrita devem ser trabalhadas paralela e concomitantemente, de forma a se complementarem.

    Conforme já foi dito, as diversas situações cotidianas reais nas quais as crianças são expostas à conversa e interações contribuem para que se apropriem desse código. É por isso que o adulto deve utilizar a fala de forma clara, sem simplificações e cuidando para falar o mais corretamente possível. É importante também que o professor se coloque como um interlocutor real, interessado pelas trocas comunicativas com os alunos. Para tanto, ele precisa permanecer atento às suas colocações, buscando atribuir sentido e significado ao que dizem dentro dos contextos e experiências da realidade das crianças.

    Muitos educadores consideram desnecessário planejar atividades específicas para o trabalho com a linguagem oral, justificando que ela está sendo trabalhada durante toda a rotina escolar, uma vez que estamos sempre falando com as crianças. Porém, esta é uma ideia equivocada, pois a linguagem incidental não trata de conteúdos específicos e próprios da área, tais como o relato, a entrevista, o debate, os jogos orais, como parlendas, trava-línguas, poemas, entre outros. A roda de conversa, tempo de compartilhar, ou qualquer que seja a denominação dada ao momento diário em que as crianças têm a oportunidade de conversar, trocando experiências, contando novidades, falando, perguntando, respondendo, expondo ideias, dúvidas, descobertas e inquietações, é um espaço privilegiado de diálogo e intercâmbio de ideias, que promove a ampliação das capacidades comunicativas, aumento do vocabulário e, principalmente, ensina as crianças a valorizar o grupo como instância de troca e aprendizagem.

    A linguagem constitui a criança e também a insere no mundo, permitindo a interação com diferentes universos. Ao experimentar o mundo pela via da linguagem, as crianças ampliam seus conhecimentos, circulando pela cultura e dando significado às suas vivências e também ao que observam no mundo em que vivem.

    As crianças de seis anos já dispõem de importantes habilidades comunicativas que lhes oferecem inúmeras possibilidades de compreender o mundo que as cerca, valendo-se dessas habilidades para saber mais sobre as coisas. Nesse momento, ficam mais nítidas as múltiplas funções da linguagem: a criança se comunica em diversas instâncias, falando de mundo, de suas experiências e da própria linguagem e pensamento. Esse caráter metacognitivo da linguagem permite que a criança se dê conta de seu processo de aprendizagem, uma vez que os caminhos e saberes vão se tornando mais concretos e conscientes com o avanço da idade. A criança pode, a partir desse momento, almejar e identificar novos conhecimentos, empenhando-se na sua busca.

    Essa relativa independência intelectual faz com que a criança ganhe maior autonomia em relação às suas aprendizagens; porém, ao contrário do que pensamos à primeira vista, demanda ainda mais cuidado por parte do professor, que a partir de agora deve necessariamente colocar-se como parceiro mais experiente do aluno nesse processo, responsabilizando-se junto com ele por esta nova fase da jornada.

    Nesse sentido, o professor dos alunos mais velhos não pode sentir-se “desobrigado” do trabalho com a linguagem oral, pois esta é uma fase em que as crianças edificam uma postura de diálogo frente à cultura que se apresenta a elas cotidianamente. Garantir um lugar de independência de pensamento, de crítica e interesse nesta relação é função do professor.

    Para tanto, é fundamental que este professor se interesse pelos processos de construção das habilidades orais de seus alunos: como eles constroem seus conhecimentos linguísticos? Como aprendem a argumentar? Como comunicam suas ideias? De que elementos dispõem? Muitas vezes, as crianças nos informam sobre esses aspectos ao falar sobre variados assuntos, ao questionar o funcionamento das coisas, ao relacionar conhecimentos do oral e do escrito.

    A fruição é essencial para o estabelecimento de uma boa relação com a língua: ler e conversar sobre um belo poema, falar sobre assuntos interessantes, buscar informações, utilizar-se de termos ou modos linguísticos aprendidos em situações diversas, tudo isso faz com que as crianças se sintam usuárias reais da língua.


    Algumas sugestões para desenvolver a oralidade:

    Planeje e desenvolva atividades como rodas de conversas diárias; saraus, encontros de leitura ou cantoria; seminários e situações de apresentação dos conhecimentos trabalhados; interação entre diferentes grupos para troca de saberes (por exemplo, as crianças do 2º ano ensinam uma brincadeira para o 3º ano, e este lê uma história para os colegas mais novos etc.) e não deixe de aproveitar as situações do dia-a-dia, as brincadeiras e momentos de socialização, visando aprendizagens relativas a:
    • comportamentos como falantes: pedir a palavra e esperar sua vez de falar; utilizar palavras de cortesia quando estiver se dirigindo a alguém, como por favor, obrigado, com licença, desculpe-me etc.; adequar o discurso às situações, ou seja, saber como falar em situações de maior ou menor formalidade (quando tem de dirigir-se a um entrevistado ou quando está participando de uma conversa informal com os colegas de sala, por exemplo); utilizar vocabulário cada vez mais amplo e próprio às situações de intercâmbio oral (para descrever, para discutir etc.); relatar experiências vividas no contexto escolar e fora dele; manifestar sentimentos e opiniões; argumentar em situações de discussão; narrar histórias ou trechos conhecidos; descrever objetos, lugares/cenários, pessoas/personagens; elaborar perguntas em contextos de entrevista, de estudo/pesquisa ou para saber mais sobre seus autores ou histórias favoritas; recitar poemas, parlendas e adivinhas; cantar.
    • comportamentos como ouvintes: prestar atenção e ouvir com respeito as falas dos demais; identificar opiniões diferentes; ouvir com atenção as comandas dadas pelo professor e por outros adultos da comunidade escolar, a fim de compreender o que está sendo proposto e organizar-se para a atividade/situação; escutar com interesse as narrações de histórias, os poemas e a leitura de outros tipos de texto; sensibilizar-se com a linguagem e com o ritmo e as entonações empregadas pelo professor, quando lê os textos em voz alta etc.



    Orientações e Subsídios para o Professor – Projeto Buriti 1 – Ensino Fundamental de 9 anos. Editora Moderna.
     
     
     
     
    

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ONDE NOSSOS PÉS PISARAM...

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LOCAL: Escolas Estaduais de abrangência da 15ª CRE
ANO: 03/2012 - 12/2012
ATIVIDADES: Formação Continuada para os professores das Escolas Estaduais.
- Bloco Inicial da Alfabetização: 1ºao 3º anos do Ensino Fundamental.
- Ensino Médio Politécnico.
Foram atendidas 41 escolas da região do Alto Uruguai, totalizando mais de 500 horas de formação.



LOCAL: Prefeitura Municipal de Barão de Cotegipe/RS
ANO: 09/2012 -11/2012
ATIVIDADES: Formação Continuada para os professores da rede municipal de ensino - Educação Infantil e Ensino Fundamental - Anos Iniciais

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LOCAL: Associação de Amparo a Maternidade e Infância - ASSAMI Erechim/RS
ANO: 02/2012-08/2012
ATIVIDADES: Formação Continuada para os professores e coordenadores da Educação Infantil

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LOCAL: Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - APAE de Erechim/RS
ANO: 03/2012 - 11/2012
ATIVIDADES: Formação Continuada para os professores da Instituição

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LOCAL: Prefeitura Municipal de Itatiba do Sul/RS
ANO: 02/2012- 09/2012
ATIVIDADES: Formação Continuada com os professores da rede municipal de ensino e professores estaduais

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LOCAL: Prefeitura Municipal de Faxinalzinho/RS
ANO: 03/2012- 07/2012
ATIVIDADES: Formação Continuada com os professores da rede municipal de ensino

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.LOCAL: Prefeitura Municipal de Getúlio Vargas/RS
ANO: 2012
ATIVIDADES: Oficinas no Fórum Nacional de Educação

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LOCAL: Prefeitura Municipal de São Valentim/RS
ANO: 02/2012 06/2012
ATIVIDADES: Formação Continuada de Professores

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LOCAL: Centro Educacional e Cultural Algodão Doce/Concórdia-SC
ANO: 06/2009 - Atual
ATIVIDADES: Assessoria Pedagógica na Instituição e Formação de Professores da Educação Infantil

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LOCAL: Prefeitura Municipal de Erechim/RS
ANO: 06/2010 - 10/2011
ATIVIDADES: Formação Continuada para os Coordenadores e Professores dos 1º e 2º anos do Ensino Fundamental;Formação dos Professores da Educação Infantil; Assessoria na elaboração dos Planos de Ensino do Ensino Fundamental

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LOCAL: Prefeitura Municipal de Marcelino Ramos/RS
ANO: 10/2010 - 12/2012
ATIVIDADES: Formação Continuada com os professores da rede municipal de ensino;Assessoria na elaboração dos Projetos Políticos Pedagógicos das escolas;Assessoria na elaboração dos Planos de Ensino do Ensino Fundamental

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LOCAL: Prefeitura Municipal de Maximiliano de Almeida/RS
ANO: 02/2011- 07/2011
ATIVIDADES: Formação Continuada para os professores da rede municipal de ensino

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LOCAL: Prefeitura Municipal de Viadutos/RS
ANO: 04/2011 - 11/2011
ATIVIDADES: Formação Continuada para os professores do sistema municipal de ensino

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