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A CRIANÇA DE SEIS ANOS, QUEM É ELA?
O ser humano constitui um tempo de vida que se encontra em permanente construção social. Assim, também e, mais ainda, a criança.
Muitos teóricos e grandes estudiosos procuram conceituar e definir o desenvolvimento humano. Estudos recentes afirmam que os bebês, muito antes de falarem, já dominam muitos conceitos, entre eles noções claras de física e aritmética e também realizam operações matemáticas( ver maiores detalhes na reportagem "O mundo de acordo com os bebês", exibida pela revista Época deste mês.
Em se tratando de desenvolvimento humano, Piaget sustenta que a gênese do conhecimento está no próprio sujeito, ou seja, o pensamento lógico não é inato ou tampouco externo ao organismo mas é fundamentalmente construído na interação homem-objeto, na sua relação com o ambiente físico e social.
Piaget considera 4 períodos no processo evolutivo da espécie humana que são caracterizados "por aquilo que o indivíduo consegue fazer melhor" no decorrer das diversas faixas etárias ao longo do seu processo de desenvolvimento.São eles:1º período: Sensório-motor (0 a 2 anos)
2º período: Pré-operatório (2 a 7 anos)3º período: Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos)4º período: Operações formais (11 ou 12 anos em diante)Cada uma dessas fases é caracterizada por formas diferentes de organização mental que possibilitam as diferentes maneiras do indivíduo relacionar-se com a realidade que o rodeia.
Diante disso cabe ressaltar que o estudante de seis anos encontra-se no segundo período, ou seja, na fase pré-operatória caracterizada fortemente emergência da linguagem. Na linha piagetiana, desse modo, a linguagem é considerada como uma condição necessária mas não suficiente ao desenvolvimento, pois existe um trabalho de reorganização da ação cognitiva que não é dado pela linguagem. Em uma palavra, isso implica entender que o desenvolvimento da linguagem depende do desenvolvimento da inteligência.
Todavia, conforme demonstram as pesquisas psicogenéticas, fundamentadas, de certa forma na teoria Piagetiana à emergência da linguagem acarreta modificações importantes em aspectos cognitivos, afetivos e sociais da criança, uma vez que ela possibilita as interações interindividuais e fornece, principalmente, a capacidade de trabalhar com representações para atribuir significados à realidade. Tanto é assim, que a aceleração do alcance do pensamento neste estágio do desenvolvimento, é atribuída, em grande parte, às possibilidades de contatos interindividuais fornecidos pela linguagem.
É sob este enfoque que podemos analisar o desenvolvimento da criança com seis anos, e a inserção da mesma na processo de alfabetização.
A diferenciação da criança com seis anos para com as demais, associa-se aos fatores definidos por Piaget, pois a base de sua comunicação atrela-se a o desenvolvimento das múltiplas linguagens. Sua imaginação e curiosidade afloradas, o desejo de aprender, de comunicar-se e explorar o mundo através do brincar, encaram a linguagem como um meio simbólico de demonstrar suas descobertas e expressar sua forma de pensar, fazendo uso pleno de suas possibilidades de representar o mundo.
Dessa forma, também apropriam-se da linguagem para estabelecer laços sociais e afetivos reforçando a ideia da construção de seus conhecimentos na interação com outras crianças da mesma faixa etária, bem como com adultos com os quais se relacionam. Dessa forma, ao propiciar à criança o contato com diferentes formas de representação e acima de tudo, desafiá-la a delas fazer uso, é auxiliar, significativamente, a criança a descobrir a existência concreta destas múltiplas linguagens e, progressivamente, aprender a usá-las. São elas: gestual, corporal, plástica, oral, escrita, musical e, sobretudo, aquela que lhe é mais peculiar e específica, a linguagem do faz-de-conta, ou seja, do brincar.
É a partir destas, que a linguagem escrita, como peculiaridade desta fase, irá se construir solidamente. A criança, nessa idade ou fase de desenvolvimento, por viver numa sociedade letrada, possui um forte desejo de aprender, que atrela-se, neste momento ao significado que tem para ela aprender a ler e a escrever. É neste período que ela começa a internalisar que a escrita e a leitura possuem uma função social, sendo por isso, fundamentalmente imprescindível, apropriar-se de seus códigos e significados.
Nesse processo, a escola deve utilizar a leitura e a escrita em situações significativas para elas, contextualizando-as.
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