-
O Ensino Fundamental de nove anos
Alexandra Ferronato Beatrici
A ampliação do ensino fundamental realmente fazia-se necessária, pois viabilizou que crianças de seis anos, especialmente aquelas que se encontram em áreas de pobreza estejam na escola preparando-se para a alfabetização. Enquanto crianças com mais recursos estudam aos seis anos (e até mesmo antes), as taxas de alfabetização referentes às crianças menos favorecidas não passam de 20%.
Mas, é preciso ter dois cuidados fundamentais para com essa faixa etária:
Primeiro: aos seis anos, a criança ainda aprende por meio de brincadeiras, de forma lúdica, e não deve ser jogada no sistema formal do ensino fundamental sem que isso seja levado em conta. Essa fase é favorável ao desenvolvimento cognitivo, pois a criança passa a ter mais facilidade para lidar com a linguagem, a escrita, a leitura, a interpretação; ela também começa a entender os mecanismos das quatro operações matemáticas. Apesar de todo o potencial para aprender, a criança aos seis anos ainda quer brincar e não se pode pensar que acabou o tempo da brincadeira e começou o da seriedade. Ela está com uma condição psicolinguística muito favorável, mas o professor só terá êxito se trabalhar de forma lúdica antes e durante o processo de alfabetização.
Segundo: ter uma criança de seis anos no ensino fundamental é também expô-la, ainda mais cedo, à repetência. Dados do MEC mostram que é justamente na primeira série do ensino fundamental onde estão as maiores taxas de repetência do Brasil: 36%. Isso significa que um, em cada três estudantes da primeira série repetem. Os efeitos da repetência sobre um alfabetizando de sete anos são devastadores, antecipar isso com certeza afeta ainda mais a auto-estima e o desempenho dessa criança.
O desafio posto à escola é a equidade e qualidade da educação. A ampliação do Ensino Fundamental de nove anos, como política afirmativa de equidade social, é uma ação que promove o acesso e permanência do aluno nos espaços de aprendizagens, bem como a democratização do conhecimento, visando a superação de uma escola excludente. Entretanto, a “chave” para a inclusão ou exclusão deste sujeito aprendente na escola é responsabilidade de todos: gestores, professores, coordenadores pedagógicos, pessoal de apoio, pais e comunidades, somente juntos será feita uma educação numa perspectiva ética, estética, humana e solidária.
0 comentários: