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Saúde mental no trabalho
MENDES, René (Org.) Patologia do trabalho. São Paulo: Atheneu, 2005. In: SELIGMANN, Silva E. Psicopatologia e Saúde Mental no Trabalho.
Paula Zanotelli
Edith Seligmann Silva possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Pará, especialização em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo e doutorado em Medicina (Medicina Preventiva) também pela Universidade de São Paulo. Atua principalmente nos seguintes temas: Sociedade, Cultura e Saúde.
O capítulo estudado, “Psicopatologia e Saúde Mental no Trabalho”, tem uma abordagem referente às relações entre trabalho e saúde. Inicialmente, a autora especifica que o enfoque delimitado ao tema proposto refere-se aos aspectos da situação de trabalho, cuja importância tem sido relacionada aos processos nos quais se constituem os agravos mentais. Cabe destacar que os estudos em Saúde Mental no Trabalho (SMT) têm encontrado na organização do trabalho (OT) a fonte preponderante dos agravos psíquicos relacionados com o trabalho. Seligmann deixa claro que dentre os aspectos do trabalho que se tornam categorias de análise importantes para o entendimento das relações entre OT e SMT podem ser destacados: a estruturação hierárquica, o controle, a divisão das atividades, a estrutura temporal do trabalho, as relações interpessoais e intergrupais. Ainda neste enfoque, ela faz alusão as tensões e conflitos gerados diante do mundo contemporâneo, sendo indiscutível a repercussão nos processos psíquicos e, consequentemente, na gênese de doenças.
De acordo com a autora, os princípios de Taylor ainda permanecem enraizados nos locais de trabalho, ou seja, os modos de controle, hoje em dia, apenas tornaram-se mais “refinados”. Isto confirma que a modernização reafirma o poder de sedução de uma falsa autonomia, em que o empregado tem liberdade, desde que esta se exerça dentro dos parâmetros estabelecidos para que seja responsabilizado pelo cumprimento de metas quantitativas e de qualidade da produção e inclusive pela proteção de sua própria saúde. Dentre muitas abordagens sistematizadas por Seligmann está o Sofrimento Mental, as Diferenças de Gênero e a Importância da Perspectiva Diacrônica (Estudo Longitudinal) e a Dimensão Ética.
No decorrer do texto, também são mencionados alguns quadros clínicos dos distúrbios psíquicos que têm sido mais observados, quanto à sua vinculação com situações e trajetórias de vida no trabalho. Destacam-se: Síndromes Neuróticas; Síndrome da Fadiga Crônica (Fadiga Patológica, Fadiga Industrial); Síndrome do Esgotamento Profissional/Burn Out; Síndrome Pós-Traumáticas; Síndrome Residual Pós-traumática; Síndromes Depressivas; Síndromes Paranóides; As Síndromes da Insensibilidade; Alcoolismo (Uso Abusivo ou Síndrome de Dependência). No diagnóstico dos transtornos psíquicos relacionados ao trabalho, ela enfatiza a importância de se fazer a anamnese com os pacientes. Salienta que “a história ocupacional e a história clínica devem ser analisadas em correlação com a história de vida.” Na evolução e prognóstico é reforçado as ações preventivas no interesse da saúde dos empregados, tanto na evitação de distúrbios psíquicos quanto de acidentes e absenteísmo, bem como na promoção da qualidade de vida no trabalho. Finalizando o capítulo, a autora tece algumas considerações sobre o desafio dos profissionais de saúde e dos profissionais pesquisadores. Na opinião dela, as mudanças ocorridas neste universo, como reestruturação produtiva, adoção de novos métodos gerenciais, implementação de novas tecnologias, terceirização, automação e precarização das relações de trabalho, entre outras, têm provocado repercussões diversas neste campo, as quais lançam novos desafios aos pesquisadores, no que tange ao reconhecimento e prevenção dos agravos à saúde, relacionado a tais transformações. Estudos sobre o tema “Saúde no Trabalho” compreendem, como determinantes à saúde do trabalhador, os condicionantes econômicos, tecnológicos, sociais, organizacionais e de condições de trabalho, o que representa uma complexidade de fatores, que requer atuação de equipes multiprofissionais.
Diante da síntese exposta e, principalmente, em vista do todo que a obra contém, a autora revela uma combinação singular entre o que pensam e produzem a lideranças acadêmicas na área da Saúde no Trabalho. Por sua vez, o texto confere credibilidade e autoridade, colocadas a serviço de profissionais, estudiosos e, oxalá, dos próprios trabalhadores, assessorias e empresários. Com isso, a autora desperta e prende a atenção do leitor com extrema maestria. Compreende-se, portanto, que “Psicopatologia e Saúde Mental no Trabalho” deve constituir-se em leitura indispensável para acadêmicos de Pedagogia, Psicologia, Administração de Empresas, Medicina e para todos que queiram seguir ou dar os primeiros passos na busca da compreensão básica do complexo mundo da Saúde no Trabalho. Entende-se, pois, como um texto útil, agradável e de leitura obrigatória.
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