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Ortografia: ensinar e aprender
por Paula Zanotelli
Durante o curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia Clínica e Institucional tive a oportunidade de realizar leitura aprofundada, culminando com um seminário na aula da professora Sonia Moojen sobre o livro: “Ortografia: ensinar e aprender” de Artur Gomes de Morais.
O autor propõe um enfoque construtivista para o ensino de ortografia, assim como apresenta e discute uma série de princípios e encaminhamentos didáticos que levam o estudante a aprender a nossa ortografia, tomando-a como objeto de estudo.
Sua obra é dividida em duas partes. Na primeira delas onde o título central é: “Aprender ortografia”, Moraes enfatiza, caracteriza e justifica que a ortografia contém propriedades regulares e irregulares, das quais o indivíduo precisa se apropriar para escrever corretamente. Em muitos casos, essa apropriação se dá pela compreensão dos princípios gerativos da norma, e que em outros casos é preciso memorizar as formas corretas, porque não existe nenhuma regra a ser inferida.
O processo de aprimoramento da escrita é, sem dúvida, uma das preocupações que o autor destaca em seus escritos. Sabe-se que a memorização automática do sistema leva ao conhecimento superficial e rígido de suas características formais e que o processo de formação de um bom escritor implica em pensar antes de escrever, selecionar, constatar, rejeitar hipóteses e combinar diferentes elementos.
Os erros e tropeços que também surgem durante o processo, evidenciam a tentativa dos estudantes entenderem como o sistema funciona, de transformarem o próprio conhecimento e de buscarem diferentes formas de uso da escrita. De acordo com o autor, isso só é possível dependendo do modo como a criança vivencia o processo de ensino-aprendizagem da ortografia na escola. Partindo deste pressuposto, Morais (2001:48) deixa-nos um desafio: “Como ajudar nossos alunos a tomar consciência das propriedades regulares e irregulares da norma que estão aprendendo?”
Portanto, este capítulo inicial nos remete a explicação do que é e para que serve a ortografia, o que o estudante pode compreender e o que deve memorizar e como ele aprende as normas.
Na segunda parte: “Ensinar ortografia”, o autor expressa suas idéias, expelindo certa resignação da função/ papel da escola para com a ortografia. Com este propósito, coloca-nos uma nova questão: “Além de compreender o erro, como auxiliar a criança a escrever ortograficamente?” A partir deste enfoque a obra nos possibilita uma série de questionamentos, ponderações e reflexões.
As intervenções, que ocorrem ao longo do processo, são realizadas rotineiramente e possuem o caráter de revisão em lugar de correção, já que nossa prática tem revelado que, para as crianças, toda correção já pressupõe que algo está errado. Na revisão, além da organização do texto, também são abordados os aspectos ortográficos.
A preocupação com a ortografia se dá no levantamento dos erros apresentados pelas crianças e suas possíveis hipóteses de notação, para que posteriormente o professor possa programar estratégias de trabalho que abordem associação de regras. De acordo com o livro, é possível e coerente promover situações de ensino-aprendizagem (ditado interativo; releitura com focalização; reescrita com transgressão ou correção; atividades que envolvam correspondências regulares diretas, regulares contextuais e morfológico-gramaticais; quadros de regras; dicionário na sala de aula; etc.) em que as crianças possam construir reflexivamente um conceito ortográfico.
Este capítulo proporciona análise das práticas usuais, definindo princípios norteadores para o ensino e explorando situações que envolvam o ensino e a aprendizagem do conteúdo.
Por fim, Morais (2001: 125) ressalta: “Estamos ajudando o aluno não só a internalizar conhecimentos que lhe permitirão comunicar-se melhor (e deixar de ser alvo de discriminação), mas também ampliar os sentidos que ele pode estabelecer quando interage com a linguagem escrita - e especificamente com as palavras.”
Após esta sugestão de leitura, espero que possam sentir-se motivados a saborear os escritos sobre as questões ortográficas, pois o autor contribui significativamente com indagações que “perseguem” os educadores na escola e fora dela.
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